sexta-feira, 8 de julho de 2016

Ao articular escolha de seu sucessor, Cunha fala em risco de 'golpe' contra Temer

Ao articular escolha de seu sucessor, Cunha fala em risco de 'golpe' contra Temer

Após a renúncia, peemedebista passou a disparar mensagens em um grupo de WhatsApp do PMDB alertando para a possibilidade de Waldir Maranhão dar prosseguimento ao processo de impeachment do presidente interino

Por: Marcela Mattos, de Brasília - Atualizado em 
O ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, durante leitura de sua carta de renúncia - 07/07/2016
O agora ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ)(Ueslei Marcelino/Reuters)
Desde que foi afastado da presidência da Câmara dos Deputados, há dois meses, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) vinha evitando mergulhar nas calorosas discussões que dominam um dos grupos deWhatsApp da bancada do PMDB, em que os congressistas dividem reportagens, compartilham opiniões e debatem diversos assuntos. Mas, horas após renunciar ao poderoso posto de comando da Casa, o peemedebista retomou a participação no aplicativo de mensagens para entrar em franca campanha pela escolha de um sucessor que venha do chamado "centrão", grupo de deputados sobre o qual mantém influência. Aproveitou ainda para alardear uma tentativa de "golpe" contra o presidente interino da República, Michel Temer.
Enquanto os líderes partidários se reuniam para definir a data da eleição do novo presidente da Câmara, na tarde desta quinta-feira, Cunha disparava mensagens defendendo celeridade na votação. Nos bastidores, o esforço era para que a sessão acontecesse no mesmo dia em que a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) se debruçaria sobre os recursos ingressados por ele para tentar reverter o processo de cassação - e, diante da iminente derrota, o caso poderia ser levado ao plenário já na próxima semana, a última antes do início do recesso parlamentar. "Marcar segunda não é ruim porque obriga a resolver", afirmou. A sessão da CCJ acabou sendo alterada para terça-feira - e, do mesmo modo, os líderes anteciparam a votação para esse dia, o que deve impedir a votação e dar sobrevida a Cunha, que é réu em dois processos no Supremo Tribunal Federal e alvo de um pedido de prisão.
Também para convencer os peemedebistas a terem pressa na votação, o agora ex-presidente da Câmara sinalizou que, com Maranhão à frente dos trabalhos, a Casa permaneceria paralisada na última semana antes das férias dos congressistas e - ainda mais grave - haveria margem "ao golpe que querem fazer de aceitar o impeachment de Michel" Temer.
Mensagens de Eduardo Cunha após sua renúncia
Mensagens de Eduardo Cunha após sua renúncia(VEJA.com/VEJA)
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Nos últimos dias, o presidente interino, já conhecido por suas decisões questionáveis, vinha sendo pressionado a destravar a comissão criada para analisar o impeachment de Temer. Na última semana, Maranhão se reuniu com o ex-presidente Lula, o que dava margem para o aumento das suspeitas de que ele de fato poderia dar andamento ao processo, e nesta quarta-feira recebeu deputados que cobravam pelo avanço do processo. Para ter início, o colegiado deve ser composto pelos seus representantes, mas os líderes partidários estão resistentes a indicar os membros. O presidente interino, então, poderia encabeçar essa função.
Os alertas do peemedebista também recaem sobre a necessidade do partido empenhar-se por um acordo em torno de seu sucessor: Cunha ressalta que, apesar de o mandato ser "tampão" - durar somente até fevereiro do próximo ano -, pode beneficiar alguém "que não atenderá princípios de união".
Nas mensagens, Cunha também agradece aos peemedebistas pelo "carinho" e a "solidariedade" e faz uma autodefesa, dizendo que a composição da Mesa Diretora - que acumula candidatos à presidência - não foi de sua escolha, mas sim de cada partido. Ele faz referência direta ao vice-presidente Waldir Maranhão e ao primeiro-secretário da Câmara, Beto Mansur (PRB-SP), ex-aliado que tenta ocupar sua agora vaga cadeira. "Belo (sic), em uma pesquisa rápida, responde a três inquéritos no STF, além de duas ações penais", ataca o peemedebista. "Nunca podemos esquecer que vencemos a eleição em primeiro turno em aliança com vários partidos. Ninguém sozinho ganha a eleição", continua.
O ex-líder tenta ainda quebrar a resistência do PMDB para ceder a presidência a outro partido: afirma que a legenda tem hoje uma "condição diferente" por estar na Presidência da República e do Senado. Para Cunha, são "remotas as chances" de aceitarem o partido também no comando da Câmara dos Deputados. Em seguida, ele sai em defesa do chamado centrão e afirma que o grupo "não é contra" o PMDB. Influente no bloco que aglutina mais de duzentos parlamentares em doze partidos, o deputado afastado trabalha pessoalmente para eleger seu sucessor. Resta saber se convencerá os colegas de partido.